quinta-feira, setembro 20, 2007

REPETICÃO

O sol ilumina meu rosto com um vento frio em minha face. Minha alma enregela, treme, congela, sucumbe. O sussurro suave da tua voz ao meu ouvido soa doído. A música inunda num dilúvio sem alívio os meus ouvidos vida à fora assim como os inundam a fria ventania que me abraça a face. As roupas de cama jogadas sobre minha vida continuam arrumadas agora que a ventania me inunda a face. O vinho que brindaria nossas desesperanças não foi aberto como sempre: um sinal vermelho! Porém quando sussurras em meu ouvido eu não ligo para o sinal vermelho. Sigo. Viro à esquina sem importar-me com o sinal vazio. Prossigo pelo elevador do fundo do mundo lotado que rompe e nos interrompe e o ocaso ao acaso me atrai e me trai enquanto conduzo o carro e a ventania me abraça a face e me inunda de frio. Minha boca seca de tanto querer-te, de querer lamber-te, de querer sorver-te como sorvete, de tão embriagado que sou, de tão embriagado que fiquei, de tão...de tão...
Uma ressaca de vinho é o teu desejo e temor que se digladiam enquanto a fria ventania me tortura a face e varre o caminho que agora é o meu destino. E no fundo do seu vento como um instrumento violento, um sinal vermelho de corda que toca me toca e me acorda com acordes vermelhos e me conduz para um transe e me impele aos cacos dos caos, me leva à esgares. Um Instrumento. Um sinal vermelho. Um sinal vermelho que toca os acordes como Instrumento de corda em meus ouvidos acordes doloridos enquanto prossigo perdido para um Instrumento. Um sinal. um Instrumento. Uma ventania. Um acorde violento. Uma nostalgia da ventania que ainda me abraça a face de braços e abraços que me causa arrepio e entorpece o meu tato e me tira o contato, um mal trato. Uma ventania em meu ouvido. Um lençol. E pelos prédios da cidade suas camas vazias de lençóis vermelhos cobrem um sinal com um sussurro arredio. Lençóis arrumados dos prédios sombrios sob um Instrumento vermelho. E eu ouço um acorde vazio de um instrumento sombrio dos prédios vadios.
...Sinais, instrumentos vermelhos, vazios, vadios...arredios.
E o teu sussurro em meus ouvidos soa como um sinal arredio de um acorde cortante ou um eco reverberante, vadio, uma ventania ou uma canção de um Instrumento vermelho batendo em meus ouvidos doloridos, vazios.
Um Instrumento. Tu ouves uma voz soturna, sombria, noturna, mesquinha, taciturna, a minha. "You can live..." Uma ventania te canta, te engana, te encanta, te confunde "You can live your fantasy..." Uma ventania vadia me lambe a língua seca e tu percebes a minha saliva doída, a ventania...de um uivo vadio.
"You can live your fantasy without me"
E num rosto esquadrinhado ou num desenho quadrinizado ou um instrumento arredio de uma flauta desafinada há uma voz áspera que te causa arrepio, a minha. E com um esgar arredio de um olho vadio, sombrio pela falta da tua ventania, há uma voz áspera, vadia, sombria, coberta com lençóis dos prédios sombrios. A taças vazias dos prédios sombrios secam minha garganta vadia. Da minha garganta esquiva emana uma vós sombria como um instrumento arredio, uma voz irritante, um eco arrogante, um grito cortante, ou um falsete reverberante: Uma voz mesquinha, sombria, a minha.
E tu queres caminhar em direção ao teu rio... e tu foges em direção ao teu rio... e como uma ventania voas para teu rio. E como uma canção repetitiva, como um texto repetitivo que pede, repete, te pede, te canta, te impede, te engana e repete em tua mente que se encanta, se perde e me pede, não impede, te confunde, você cede, se ilude e ela martela como uma música arrogante, um carta chata, envolvente, nauseante, deprimente, irritante.
E o meu abismo profundo te observa igual a um pássaro e tu sem disso te aperceberes ao menos pulas em direção ao fundo do meu abismo profundo. Subjuga-te às profundidades obscuras e aos vales vadios e vazios de um abismo sombrio, sem fundo, numa queda infinita. E tu que queres fugir da minha vós e pressentes a minha força, a minha voz trêmula em teu pensamento, crês com a melhor das inocências que distante do meu mundo contaminável viverás feliz (e sombria).
Mas além, além do fundo, no fundo do mundo, há um outro lado, um outro mundo, o meu, uma voz soturna como um instrumento em teus pensamentos noturnos te interpela e ela martela os mesmos acordes que tu pensas poder apagar. E temes pensar em meu vinho. Um sinal verde e: ouves agora uma voz taciturna da minha garganta soturna, diurna. E temes ao lembrar-te dos nossos encontros e das nossas vidas trançadas, dos meus gemidos vadios e do meus do uivos doloridos dentro de ti.
A minha voz soturna te ameaça, te atrai para uma luta psicológica como uma sangrenta batalha medieval. Uma voz taciturna, mesquinha, a minha, que diz alegre embora infeliz:
"You can live your fantasy without me, But you'll never know how much I needed you"
Assim Repetia Zaratustra