quarta-feira, outubro 08, 2008

NUMA FILA

Perdido em meus pensamentos na fila de um banco, me flagro olhando distraidamente para um ponto fixo que, sem eu perceber, era uma senhora, já incomodada com meus olhares e pronta pra chamar o guarda. Desvio o olhar para o lado e percorro lentamente a mesma fila. Pessoas cansadas, abatidas, impacientes, nervosas. Nem parece a segunda-feira ensolarada nos princípios da primavera brasiliense, exalando felicidade pelas flores cidade afora. A vida é bem mais difícil que um simples dia de sol.
Ouço sussurros de conversas...”mãe, tô cansado”...”e depois do velório dele nunca mais falou comigo”...”então a Maria falou pro Juvenal que”...”depois que perdi o emprego nunca mais arrumei outro”...e pessoas apressadas olham para os relógios, ou o próprio, ou o dos outros, num cacoete nítido de quem não gosta do que está vendo.
A fila quase não se move, e aumenta a cada minuto. O susto de quem chega ao ver o tamanho da fila faz pensar duas vezes se vale a pena esperar. Alguns desistem. Outros, porém, têm de encarar o sofrimento, pois necessitam desse dinheiro para sobreviver. E o tempo passa, e os trabalhadores cansam. Olham desanimados para os lados procurando alguém conhecido para puxar uma conversa e assim matarem o tempo, antes que o tempo os matem. Pigarreiam, lêem distraidamente seus documentos, olham fixos para senhoras desesperadas...mudam a perna de apoio para não ficar dormente. Uma senhora (aquela a qual eu observava) pede para a moça que está atrás para guardar seu lugar e vai sentar num banco. E me olha com cara feia.
Desvio o olhar novamente, quando me deparo com a caixa, que sorri seu sorriso amarelo, mais por dever que por espontaneidade. Quando raramente olha para o tamanho da fila, suspira, cansada, com as mãos provavelmente latejantes de tanto digitar, não vendo a hora de chegar o fim do expediente.
Cutucam meu ombro, minha vez no caixa. Pago em um minuto o que queria depois de 30 minutos de histeria. Pensando bem, nem tanto. Acho que simpatizei com a velhinha. Vou falar com ela agora.
-Com licença minha senhora, eu...
-Guarda!!! Guarda!!!! Um tarado!!!!!! Guarda!!!!!!
Assim Contava Zaratustra