sexta-feira, junho 13, 2008

Sem Assunto

Caraca...ontem tinha pensado numa coisa pra colocar aqui, mas acabei me esquecendo. O que era?
Também, já tô ficando velho...a memória falhando, dores nas costas, o cabelo embranquecendo, a barriga crescendo...O mais legal das pessoas notarem a sua protuberância abdominal é você poder falar: é...agora tô me dedicando à criação de barriga. Ou, melhor ainda: Eu não engordei, estou em fase de expansão lateral para melhor atendê-las.
Nada melhor como um dia após o outro. Minto. Nada melhor que um dia após a noite. Um dia após o outro ficaria muito estranho, e difícil de dormir com a luz lá de fora. Preciso urgentemente parar com essas piadinhas sem-graça. Tá virando vício.
A pior coisa que pode acontecer a uma pessoa é não ter o que escrever, quando precisa escrever. E não tem coisa mais batida do que escrever sobre estar sem idéias. O Mário Prata fez uma crônica sobre quem e o que se escreve quando não se tem o que escrever. Tipo uma coletânea, the best of. Citou vários autores, dentre eles o Verissimo, que é um mestre nessa arte. Na verdade, acho que ele todo dia escreve coisas sem ter o que escrever. E daí acaba saindo engraçado. Eu sou ao contrário. Tento soar engraçado e fico pedante. Mas na verdade eu nem precisaria escrever aqui. Nem sei porque fiz esse grogue! Aliás, sei. Dois motivos:
1- a minha colega Valéria me estimulou, ela fazia jornalismo e queria escrever pra praticar, mas não sabia como começar, então combinamos: eu escrevia um texto e ela comentava e vice-versa.
2-fazia algum tempo que eu queria me dedicar, pelo menos um texto por dia, a falar sobre qualquer coisa, comentar algum assunto da tv, livro, etc e tal. Só que eu não consegui. Depois encheu o saco e apaguei tudo. Pra quem faz jornalismo até é bom possuir um blog. A gente aprende a manter uma certa constância de freqüência (isso é redundância?)(Acho que é.)(É sim.) ao escrever textos, aprende a não ter vergonha do que escreve, pq jornalista com vergonha do seu texto é o fim da picada. E, quando ainda tem vergonha, e não quer admitir. A gente aprende a criar pseudônimos a pretexto de dizer que é apenas criação literária e não quer se expor ainda, pois está em fase de aprendizado.
Porém, não era isso que eu queria falar. Bom, vou tentar achar a tal crônica do Mário Prata. Já volto aqui.
Assim Voltará Zaratustra.

quarta-feira, junho 11, 2008

Na Hora do Almoço

Meio-dia de um dia qualquer. Não lembro que dia isso aconteceu, mas aconteceu num junho incerto dum ano qualquer. Local: um refeitório. Em minha frente, pessoas famintas aguardam impacientemente a fila. A ressaca é grande, o dia frio. Eu, tonto. Fome. Há uma revolução tsunâmica dentro do meu estomago, as tripas estava revoltas, elas davam nó. Há algo diferente no ar. É o cheiro do almoço. A fila, um pouco grande, um tanto mais atrapalhada, demora. A fome aperta. Penso no dia maçante que continuará dali para frente. Como todos os últimos dias: corrido e desgastante: é parada de forno.

Salada: beterraba e um pouco de alface e cenoura. Não sou um vegetariano inveterado. Na verdade, quanto menos salada, melhor. Pudera eu viver de carnes e alimentos ditos "maus", a vida estaria boa. Carne, arroz e feijão, eis o básico da vida. Como aos poucos. Na mesa ao lado pessoas falam de um show sertanejo qualquer que não me interessa e também não é relevante ao relato. O ar pesa ao redor. Há como uma bigorna etérea, difusa que pressiona todos ali para o chão.

Comer é um exercício de paciência, pois se encontra dentro de outro exercício maior: viver. Sabendo que a vida acaba e é curta, temos pressa. Mas nossa pressa é inócua, justificamo-la, ou pelo menos tentamos justificá-la, com nossas tarefas inúteis, nosso dia-a-dia tosco. O desejo sobre-humano de fazer tudo rápido para, após, saborearmos a vida é prova irrefutável de nossa presunção perante o tempo que nos controla. Ou nos abarca. A nossa pressa é inútil; como é inútil essa conjectura sobre o tempo.

A prolixidade não é comumente uma de minhas melhores características. Essa digressão acima sobre a pressa e o tempo não tem a menor ligação com o tema do relato. É, como dizem os expertos, a famosa licença poética, que autores do mundo todo usam e abusam para inserir em suas obras suas opiniões sobre a vida, sobre os absurdos e outros temas eternos, como o tempo. Se pararmos para analisar, não interfere em nada na trama do texto. Não digo que não sejam interessantes, algumas com certeza o são, mas não fariam a menor falta. É o que o povo de língua inglesa chama de sausage fulfilling e nós, de língua portuguesa, de "abarrotamento de carne suína em tripa delgada". Ou, simplesmente, encher lingüiça. Faz-se necessária, doravante, a redução de tais artimanhas literárias questionáveis. Voltemos ao relato.

Mais ou menos umas duas mesas em diagonal, à minha frente, estava sentada uma mulher. Calculo que entre 29 e 30 anos. Cabelos um pouco acima dos ombros, loiros. Rosto singelo, de feições finas. Olhar compenetrado. Pele branca ou rósea, porém bronzeada. Bem vestida. Calmamente comia, sem a pressa dos tolos e néscios.

Não a havia percebido ainda. Sentei-me à mesa, bebi o refrigerante que ignoro o sabor (é mais poético falar "ignoro" que "não lembro") e comecei a devorar meu desjejum do meio-dia. Quando estava entretido com o bife e sua feroz luta com meus talheres, olho ao lado, como todas as pessoas que olham aos lados sem nenhuma pretensão de nada, apenas pelo puro e simples fato de olhar e exercitar nosso inerente desejo de voyeurismo. Eis que me deparo com essa mulher. Desvio o olhar, por instinto ou por alguma outra explicação que ignoro (tá bem, eu não sei, não sei!). Nossos olhos haviam se encontrado.

Volto à comida. É comum em nossa rotina esbarrarmos com olhares alheios. E nada melhor que a expressão esbarrar, porque há mesmo um contato físico que resulta, depois da esbarrada, num distanciamento do olhar. Como se uma bola fosse um olhar e quando o pé (o outro olhar) esbarra, a bola vai em outra direção. Dessa forma meu olhar foi empurrado para o lado. E voltei a comer.
Depois de um tempo, já devidamente esquecido o fato, distraidamente acabo por olhar novamente para aquela mulher. E ela me fitava novamente, contudo, dessa vez, como quem segura uma porta empurrada por uma multidão, meu olhar esbarrou e se deteve. Infindáveis dois segundos devem ter sido o tempo de contato. Dessa vez é ela quem cede, e volta a comer em sua mansidão de mar em recifes, olhando aleatoriamente para os lados.


Enquanto termino o almoço, olho rapidamente para ela, evitando outra esbarrada, que poderia ser fatal para um de nós. Ela começa a sobremesa. Eu não tenho tempo para sobremesas, tenho pressa. Quando me levanto, noto que ela me olha mais uma vez. Poderia ser a mulher perfeita, poderia ser a mulher que todos procuram. Poderia ser um engano. Ela poderia estar olhando para alguém ao meu lado. Poderia...talvez pudéssemos.

Vagarosamente saio de minha mesa em direção ao caixa, prestando atenção meio de soslaio para ela.

Nenhum olhar.

Passo a catraca. Lentamente me dirijo à saída, pensando em todo o acontecido dos últimos minutos. O tempo de um almoço apressado foi o suficiente para me fazer pensar no caso por alguns dias seguidos, seus olhares, sua face, suas inescrutáveis intenções. Antes de sair, viro o rosto uma última vez torcendo, pedindo a algum deus que a fizesse retornar, pela última vez, seu olhar, que consagraria nossa cumplicidade e eternizaria o momento como uma lenda, um possível conto de fadas para gerações futuras ou, ao menos, uma boa lembrança para nossas velhices. Ela comia, imperturbável, sua sobremesa.

Assim Relatou Zaratustra.

segunda-feira, junho 09, 2008

Os Sofrimentos do Jovem Werther

É esse o livro que estou lendo. Ouvi um monte sobre esse livro. Parece que logo depois do lançamento do livro na Alemanha houve uma onda de suicídios no país. Fiquei interessado. O que será que tem de tão impactante no livro? Johann Wolfgang von Goethe, o autor, da escola romântica, é definitivamente um chato. Mas expliquemos, antes que os puristas me atirem pedras. Eu comecei a ler o livro, e gostei bastante. Tem aquelas linguagens eruditas, um mundo sem computadores e essas contemporaneidades banais, em que as pessoas se divertiam de forma diferente. É legal saber como era a vida naquela época (acho que séc XVIII ou XIX). Daí o personagem principal, Werther, ser cheio de sentimentalismos. Oh a vida, a natureza, os passarinhos e as borboletas...tudo tão bonito, tão meigo! E o rapaz se apaixona por uma moça já comprometida...evidente, pelo que o livro causou na Alemanha, sabe-se que no final o cara se mata, por amor. Tão ficção...tão bonito! É por isso que o livro é chato. Não num sentido literal. É chato por ser irreal, por ser damasiado piegas (de onde fui tirar essa palavra?), por ser tudo sentimental demais. A leitura é agradável, o enredo e o texto são ótimos, mas saímos do livro muito, como dizer...inocentes. Ficamos com essa irrealidade na cabeça. Muito idealizado. Talvez eu nem perceberia isso. Poderia ter passado direto, e estaria hoje num mundo florido, cheio de passarinhos, bambis, tele-tubes e pessoas que cometem suicídio por amor. Mas o mundo é diferente. No mundo real, mata-se os outros por amor, não a nós próprios. Crime passional (pathos). Mata-se filhos, mata-se pais, namorados. Não matamos a nós mesmos. Já que não conseguimos realizar o que queremos, matamos nosso objeto de desejo, para eternizá-lo. Não é estranho? É. Mas é real. O mundo real é pior do que imaginamos. Uma dica, logo depois, de ler este livro, leia Cândido do filosofo francês Voltaire, O livro citado contrapõe ingenuidade e esperteza, desprendimento e muita ganância, caridade com egoísmos, delicadezas com violências, amor com ódio. Tudo isso muito bem relacionado com discussões filosóficas sobre razões causais e seus efeitos, razão suficiente, ética, moral e etc e tal, além de ser uma viagem no tempo, onde se aprende duma só lapada questões existênciais, culturais, filosóficas, acadêmicas, históricas, religiosas, mitológicas e etc e tal. Você percebe imediatamente, em que mundo estava, e em que mundo está.
Assim, piegas, Falava Zaratustra.